Paternidade: Uma crônica de nosso tempo
Paternidade: uma crônica de nosso tempo
Assistimos ao lançamento da Netflix Paternidade, dirigido por Paul Weitz (American Pie 1; Entrando numa fria maior ainda; Mozart in the Jungle). Estrelado pelo polêmico comediante Kevin Hart.
O filme é baseado na história real de Matthew Longeli, descrita no livro Dois Beijos para Maddy, publicado no Brasil em 2020 pela editora Rocco. A história trata dos percalços de um pai de primeira viagem que precisa aprender a cuidar da filha recém nascida, após a morte da esposa logo após o parto.
Após assistir ao filme, enquanto conversávamos sobre o que achamos e o que podemos usar para trazer para vocês no Parábolas Geek, não encontramos uma palavra melhor do que “Crônica”. O enredo de Paternidade é uma crônica de nosso tempo por diversos motivos que eu quero desenvolver com você neste texto.
Em primeiro lugar, é preciso definir o conceito de crônica. De modo geral, uma crônica é um texto curto, com linguagem coloquial que trata de assuntos do cotidiano. Este é um recurso linguístico muito utilizado pelo jornalismo, porque são textos que perdem sua “validade” muito rápido. Por tratar do presente, acaba ficando obsoleta muito rápido. Nossa leitura do filme como uma crônica, tem relação a alguns elementos que podemos inserir ao contexto de nossa sociedade contemporânea, e gostaria de compartilhar com vocês:
- A tragédia por trás das estatísticas
É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério! Eclesiastes 7:2
Já falamos sobre o luto em nossa live sobre Wandavision a algum tempo, mas o tema, infelizmente, é cada vez mais frequente nas famílias brasileiras em virtude da extensão da pandemia. Dificilmente você que está lendo este texto, não tenha perdido alguém próximo ou conheça alguém que perdeu um membro de sua família nos últimos 15 meses, desde que este grande pesadelo começou.
No filme, o momento de celebração do nascimento da filha do casal Longeli, se transforma rapidamente na tristeza da morte sem sentido da esposa.
O Pregador, autor de Eclesiastes, fala sobre uma das únicas certezas da vida que é, paradoxalmente, a morte. Precisamos tomar cuidado com a tendência de nos anestesiarmos diante dos números monstruosos que temos diante de nós todos os dias. Ao transformarmos vidas em números, não alcançamos a dimensão da tragédia humanitária que temos diante de nós.
São famílias que perderam o arrimo de família e agora precisam reinventar a maneira como vão se sustentar; são filhos que perderam pai e mãe e são agora, órfãos; cônjuges separados pela morte e que agora precisam aprender a viver sem o companheiro ou companheira e precisam criar filhos sozinhos; são sequelados que talvez nunca mais possam voltar a trabalhar na mesma função em que trabalhavam pelas limitações que o pós-Covid trará, entre outras tragédias que possuem nomes, rostos e histórias.
Paternidade, o filme tem a capacidade de nos tirar da frieza dos números para apontar o impacto que uma única morte tem em um microcosmos familiar. Por esta razão, caso você conheça alguém que perdeu seu pai, sua mãe, seu filho, seu irmão nos últimos meses, entre em contato para se colocar à disposição desta pessoa, pois a ausência abrupta de um ente querido não tem explicação racional. Esta pessoa talvez, esteja precisando desabafar e colocar para fora o que está sentindo, já que precisa se manter forte diante dos que aqui ficaram e você pode ser esta ponte e um instrumento poderoso para trazer refrigério para a vida desta pessoa. Este item também deve nos despertar para a sutileza da vida. Aproveite o tempo que tem para demonstrar amor e carinho hoje! Não sabemos quanto tempo temos com aqueles que amamos. Não permita que a correria do dia a dia te impeça de dizer eu te amo!
- O sofrimento que traz maturidade
Portanto, deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos para a maturidade. Hebreus 6:1a
Apesar da dor do luto, existe uma realidade urgente que simplesmente não pode esperar: Matt precisa aprender a cuidar sozinho de sua filha Maddy! O mais interessante é que ninguém acredita que ele seja capaz de realizar uma tarefa tão difícil, tendo em vista seu histórico de imaturidade. Seus amigos próximos, sua sogra e até ele mesmo, dizem que ele não é capaz de criar a menina. Sem a menor experiência e, sem saber o que fazer, o jovem pai procura auxílio em todos os lugares possíveis, incluindo um grupo de ajuda para jovens mães.
Embora não tenhamos muitas referências sobre quem ele era no passado, a impressão que as pessoas ao seu redor possuem, nos mostram que ele não amadureceu com o casamento. A morte de sua esposa, coloca o pai em um dilema fundamental: ou abre mão de sua vida sem responsabilidades maiores, ou terá que abrir mão de sua filha e, assim, do legado de sua esposa. A escolha do protagonista, como acompanhamos neste filme, será a de enfrentar a opinião da maioria e até sua própria concepção de si mesmo, para provar que é capaz. Esta é a parte mais engraçada do filme, pois mesmo se esforçando, nem sempre será bem sucedido em sua missão.
Da mesma forma, em nossas vidas, é necessário que venhamos a enfrentar as dificuldades como parte de nosso treinamento rumo à maturidade espiritual. Este deve ser o nosso alvo, como o autor da carta aos Hebreus aponta no texto destacado.
Não precisamos imaginar que algo semelhante ao que ocorreu ao protagonista aconteça conosco, para compreender o princípio em questão. Muitas vezes nossa vida cômoda nos impele a continuar no marasmo e na mesmice. Muitas vezes desafios e lutas nos “forçam” a sair do local em que estamos para desenvolver habilidades que nem sabíamos que não existiam. Matt aprendeu a ser um pai e todas as responsabilidades que a função exige e requer. Ele também erra muito, na tentativa de acertar, o que o assemelha muito com a nossa realidade, pois somos todos falhos e, sem a misericórdia de Deus, não estaríamos mais aqui.
- Pais terrenos e nosso Pai Celestial
Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá. Salmos 27:10
Pois o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz. Sim, para admiração de vocês, ele lhe mostrará obras ainda maiores que estas. João 5:20
Desde a conversão, ouvimos que nosso relacionamento com o pai, nos ajudará a compreender mais a respeito da Paternidade de Deus. Confesso que isso foi um grande problema para alguém que cresceu sem a presença paterna, em função do divórcio de meus pais. Durante a juventude e adolescência, enxergava Deus como alguém ausente. Apenas após nosso curso de noivos, onde tratamos sobre questões familiares, consegui conversar e resolver minha vida com meu pai.
Eu não sei como é o relacionamento com seu pai terreno, pois talvez você nem o conheça, ou talvez ele não esteja mais aqui. O que eu sei é que o melhor pai do mundo não se compara ao seu pai celestial! Procure conhecer nosso Aba, a partir das Escrituras e de seu relacionamento com Ele.
Caso o seu pai esteja vivo e você não tenha um bom relacionamento com ele, procure-o nesta semana ter uma conversa com ele e resolva suas questões. Nunca saberemos quando será nossa última oportunidade de resolver os problemas. Como cristãos, precisamos de maturidade para perdoar situações de nosso passado para vivermos com nossa consciência tranquila diante de nosso futuro.
Posso afirmar, por experiência própria que este esforço vale a pena!
Em Cristo,
Eduardo Medeiros